Fordlândia




Nos anos 20, o empresário Henry Ford começou a analisar as possibilidades de produzir borracha natural na Amazônia para suprir a demanda de sua fábrica de automóveis. Seu objetivo era produzir matéria prima para não depender da borracha importada da Europa.

Em Detroit, o cônsul brasileiro entrou em contato com Ford e intermediou a negociação das terras junto ao governo brasileiro. Para formalizar o acordo, Henry Ford enviou dois funcionários para o Brasil: Jorge Dumont Villares e W.L. Reaves Blakeley. Toda transação custou 125 mil dólares, porém Ford teria adquirido as terras gratuitamente se tivesse negociado diretamente, pois o Estado havia demonstrado interesse em receber as instalações da cidade projetada.

Com a aquisição formalizada em 1927, iniciou a limpeza da área denominada “Boa Vista”, localizada as margens do rio Tapajós, na bacia do rio Cuparí. Relatos de moradores antigos afirmam que o céu escureceu com tanta fumaça que surgia da grande queimada, e aos poucos o pequeno vilarejo, entre as cidades de Aveiros e Itaituba, se transformava.

Queimadas em Fordlândia

Os materiais de construção necessários para estruturar a cidade foram trazidos dos Estados Unidos da América nos navios “Lake Ormoc” e “Lake Farge”. A caixa d´água, símbolo da presença americana, foi erguida em ponto estratégico, podendo ser vista a longa distancia. Fordlandia estava à altura das grandes capitais. Possuía porto, hospital, casa de força, telefonia, farmácia, armazém, refeitório, escola, casas para funcionários e hidrantes espalhados pelas ruas.

No final de 1929, a derrubada de árvores deu lugar ao plantio das seringueiras. Por ser uma área com ondulações no solo e o clima com umidade relativa do ar, as plantações ficaram propicias a ter problemas e inviabilizar o projeto. Acredita-se que Blakeley convenceu Henry Ford a plantar seringueiras na Amazônia pelo fato de serem nativas da região, mas sem realizar estudos necessários na área. Essa suspeita é levantada por não haver registros da presença de agrônomo ou especialistas na comitiva da Companhia Ford Industrial do Brasil.

No final de 1930, Fordlândia parecia ter superado os principais óbices, a maior parte das instalações tinha sido concluída, a limpeza de novas áreas estava em andamento, estradas construídas e a plantação de mudas de seringueiras prosseguiam. No entanto os trabalhadores brasileiros não estavam satisfeitos com o regime espartano imposto pelos capatazes americanos o que provocava uma enorme rotatividade entre os trabalhadores. A pontualidade, a proibição da ingestão de bebidas alcoólicas no perímetro da empresa, a alimentação tipicamente norte-americana, e a sujeição a uma forma de gestão a que não estavam habituados, gerava conflitos e diminuía a produtividade. Os brasileiros acostumados a organizar sua jornada de trabalho, de acordo com o Sol e seguindo o ritmo determinado pelos períodos de chuva ou estiagem tinham dificuldade de se habituar aos horários ditados por uma estridente sirene e o controle rígido dos cartões de ponto. Em cada detalhe ficava clara a falta de compreensão entre os dois mundos. Os trabalhadores solteiros foram proibidos de sair da propriedade para frequentar bares e bordéis. Em Fordlândia era vedado o uso de bebidas alcoólicas, a “lei seca” fora exportada para a Amazônia. O jeitinho brasileiro incrementado pelo repentino influxo de dinheiro deu origem, ao estabelecimento, nas cercanias da cidade “americana”, de bares, casas de jogos e bordéis. Os solteiros de Fordlândia usavam de todo o tipo de artifício para contrabandear bebidas e dar uma “fugida” até a “ilha dos inocentes” onde encontravam bebidas e prostitutas vindas de Santarém e de Belém.

Não tardou para que a insatisfação com as normas americanas provocasse uma grande confusão. O conflito teve início no novo refeitório, uma estrutura de teto baixo, construída de metal, piche e amianto, mal ventilada que se assemelhava a um verdadeiro forno. Contrariando o acordado na ocasião do contrato os administradores decidiram que os operários teriam de pagar pelas refeições cuja dieta, estabelecida pelo próprio Ford, era constituída de farinha de aveia e pêssegos enlatados para o desjejum e espinafre enlatado, arroz e trigo integral para o jantar. A espera na fila era demorada tendo em vista que os funcionários do escritório tinham de registrar o número dos distintivos dos funcionários.
“Os cozinheiros tinham problemas para manter o fluxo de comida e os escriturários levavam tempo demais para anotar o número dos distintivos. Lá fora, os trabalhadores se empurravam, tentando entrar. Dentro, aqueles que esperavam pela comida se juntavam em torno dos atribulados servidores, que não conseguiam colocar o arroz com peixe nos pratos com rapidez suficiente. Foi então que Manuel Caetano de Jesus, um pedreiro de 35 anos do estado do Rio Grande do Norte, forçou sua entrada no refeitório e enfrentou. (...) Ostenfeld mandou Jesus voltar para a multidão e disse: ‘Tenho feito tudo por você; agora você pode fazer o resto’.
(...) A reação foi furiosa, lembrou um observador, como ‘atear fogo a gasolina’. O ‘terrível barulho’ de panelas, copos, pratos, pias, mesas, cadeiras sendo quebradas serviu de alarme, chamando mais homens para o refeitório, armados de facas, pedras, canos, martelos, facões e porretes. Ostenfeld, juntamente com Coleman, que havia presenciado a cena sem saber nada de português, pulou em um caminhão para fugir.
(...) Com Ostenfeld em fuga, a multidão ficou enlouquecida. Depois de demolir o refeitório, destruíram ‘tudo que pudesse ser quebrado que estivesse no seu caminho, o que os levou ao prédio do escritório, à usina de força, à serraria, à garagem, à estação de rádio e ao prédio da recepção’. Cortaram as luzes do resto da plantação, quebraram as janelas, atiraram uma carga de caminhão de carne no Rio e inutilizaram medidores de pressão. Um grupo de homens tentou arrancar os pilares do píer, enquanto outros atearam fogo à oficina, queimaram arquivos da empresa e saquearam o depósito. Em seguida, os desordeiros voltaram os olhos para as coisas mais intimamente associadas a Ford, destruindo todos os caminhões, tratores e carros da plantação. Pára-brisas e faróis foram espatifados, tanques de gasolina perfurados e pneus cortados. Vários caminhões foram empurrados para dentro de valas e pelo menos um foi jogado no Tapajós. Depois eles se voltaram para os relógios de ponto e os despedaçaram.
(...) Ladeado por soldados brasileiros armados, Kennedy reuniu os trabalhadores da plantação e lhes pagou ‘por todo o tempo até 22 de dezembro’. Em seguida demitiu toda a força de trabalho, com exceção de umas poucas centenas de homens.
Com a Fordlândia em ruínas e danos estimados em mais de 25 mil dólares, ele aguardou que Dearborn lhe dissesse o que fazer”. (GRANDIN)

Fordlândia ganhou fama internacional após várias publicações feitas por estudiosos que pesquisam sobre o lugar e a vida de Ford. Um dos destaques é o Livro de Greg Grandin publicado em 2009, que descreve os detalhes por trás desse grande empreendimento. Trata-se de uma pesquisa aprofundada desde a criação de Fordlândia até o fim do projeto em Belterra.



Ressalto, também, o documentário de Daniel Augusto e Marinho Andrade que mostra toda a história do lugar através de filmagens da época, documentos e relatos de americanos que nasceram e viveram na vila.



A primeira cidade-empresa de Ford em breve terá sua história transformada em filme. O projeto cinematográfico é do diretor Emerson Muzeli que há anos pesquisa sobre o lugar e firma parcerias para a execução do mesmo. As gravações estão previstas para começar no final de 2014 na cidade de Ribeirão Pires (SP), onde será montada a cidade cinematográfica. O filme será em inglês com elenco de renome internacional.

   Anos 20, a História sobre um amor proibido entre  Joanna uma jovem professora brasileira e Mitchel um operário americano que atravessaria o tempo e os limites da vida para nos contar uma das mais dramáticas e interessantes Sagas Brasileiras.   A construção da utópica cidade Americana de Fordlândia na Amazônia Brasileira.  Uma história emocionante e espiritualista, que tem seu ponto de partida nos dias de hoje em Detroit, onde através da vida de Joanna, uma pacata mas atormentada americana que tem lembranças de uma outra vida iremos descobrir o passado histórico e tudo o que teria acontecido com ela nesta cidade perdida no meio da Selva Brasileira.   Através de Joanna, Iremos mergulhar no passado e ter um ponto de vista sobre a as  atividades do Americano Henry Ford em seus dias de Glória e ascensão durante a tentativa de implantar no Brasil a sua maior “experiência”Uma nova sociedade industrial.   Duas culturas divididas pela selva, Brasileiros assim como Joanna,  oriundos de todos os lugares do Brasil e Operários Americanos assim como Mitchel, enviados por Ford, formariam uma gigantesca população de homens guerreiros que não tinham medo de morrer em meio as mazelas e os perigos da selva. Todos iriam disputar muito mais do que os dólares de Henry Ford que já era considerado “O novo Messias da Selva”, eles iriam disputar o direito de sobreviver.
  
Uma aventura recheada de acontecimentos históricos e verdadeiros, assim como a ferrovia Madeira Mamoré este seria um dos maiores e empreendimentos feitos pelas mãos do homem no coração da gigantesca Amazônia.
  
Henry Ford investiu mais de 30 milhões de dólares entre os anos de 1928 a 1945, chegando a empregar cerca de 6000 operários por mês , com  a idéia de plantar e extrair látex de Seringueiras que nunca produziram absolutamente nenhuma gota de borracha para as ansiosas linhas de produção em Detroit.
  
Revoltas, centenas de mortes, desilusão e a  incansável opressão americana marcaram a trajetória deste que seria pelas palavras de Ford “ um de seus maiores projetos”
  
Tudo isso em belíssimo filme que vai abordar o passado histórico através do mais sublime e indissolúvel sentimento, um grande amor que atravessou gerações e que nos é apresentado com um novo olhar sobre nossas lembranças, nossas emoções e sobre o que realmente queremos levar para sempre em uma outra vida!


Fotos Antigas de Fordlândia.



















2 comentários:

Paulo Cesar Maia disse...

Um documentário completo deste episódio histórico. Parabéns! Belíssimo trabalho.

Walter Wanderley Amoiras disse...

Foi com muita alegria e tristeza que acessei este site com essas importantes e preciosas informações sobre Fordlândia e Belterra. Fui médico nessa Base Física nos anos 1971/72, contratado como "recibado" pelo DEMA/PA. O sentimento de indignação ainda é muito forte ao saber também que todo esse patrimônio físico e histórico foi dilapidado pelo desgoverno brasileiro, através dos anos. No momento estou concluindo um trabalho sobre essa região do Tapajós, que elegi como área temática na minha dissertação de mestrado (NAEA/UFPA) e tese de doutorado (Núcleo de Medicina Tropical/UFPA. Parabéns aos responsáveis pelo conteúdo deste site pelos registros dessa importante região da Amazônia.

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