O FANTASMA DA SERRARIA
Por J. Barreto (acadêmico de
jornalismo 2011 UNIFAP)
Durante o desmatamento que ocorreu em Belterra para
dar lugar ao seringal, muitos trabalhadores morreram esmagados por grandes
árvores, vitimas de acidentes que freqüentemente acontecem em trabalhos dessa
natureza.
Contam que um desses acidentes fatais ocorreu
quando estavam fazendo a derrubada de um trecho de mata na estrada cinco,
quando um homem com sede ao aproximar-se da bilha para beber água foi atingido
por uma enorme árvore que lhe tirou a vida. Assim, o pobre homem morreu com
sede e provavelmente com fome, pois segundo dizem faltavam poucos minutos para
o meio-dia, a hora do almoço.
Muitos anos se passaram até que uma noite o plantão
de um vigilante da serraria que ficava localizada na estrada quatro,
transcorria normalmente, tudo calmo, o plantonista desligou as lâmpadas, fez
uma última inspeção e como estava tudo em ordem abaixou a chama do lampião,
também conhecido por candeeiro, arrumou uma cadeira, sentou-se à vontade e logo
o silencia da noite o induziu ao sono e adormeceu. Por volta de meia noite um
rumor o despertou. Ainda meio sonolento observou a aproximação de um vulto que
se esquivava pelas sobras. Logo o vigilante sentiu fortes arrepios e teve o
corpo tomado por um estupor que o deixou paralisado. Ao aproximar-se o vulto
falou:
- Meu amigo, era quase meio dia quando eu me
dirigia para beber água e nesse exato momento uma enorme árvore caiu sobre mim,
causando a minha morte. Nem cheguei a beber água. Morri com sede e com fome.
Você me deixaria beber água na torneira?
O vigilante com a voz trêmula e embargada pelo
pânico respondeu:
- Pode beber à vontade.
Enquanto a pobre alma bebia água o vigilante lutava
contra o medo que não o deixava se movimentar. Saciada a sede, a alma voltou
até onde estava o vigilante, agradeceu e sumiu na noite.
Passado esse momento de torpor, percebeu que já
podia se movimentar, o vigilante saiu em desabalada carreira até o posto fiscal
mais próximo e lá passou o resto da noite. Na manhã seguinte dirigiu-se até o
escritório central da Companhia e solicitou o seu desligamento. Nunca mais foi
visto nas redondezas.
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